23.12.11

Marcelo Freixo: significa?

Foto: Oscar Cabral/Veja Rio.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ) é um dos nomes mais comentados da política fluminense nos últimos meses. Seus dois mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) têm repercutido não somente por causa de sua atuação como presidente da CPI das Milícias (e as consequentes ameaças de morte que vem recebendo desde então), mas também pela clareza que utilizou para transformar o funk em movimento cultural e derrubar a lei que exigia autorização da Polícia Militar para que bailes em favelas do estado pudessem acontecer.
 
Já declarado pré-candidato à prefeitura do Rio e normalmente apresentado como alternativa (por si mesmo e pela grande mídia que inegavelmente o legitima), tenho dúvidas se Freixo conseguirá formar/liderar uma aliança verdadeiramente progressista para a cidade.

Seu discurso - no que tange as milícias, poderes corrompidos e (in)eficiência do Estado - é coerente e plausível, mas tudo isso parece perder valor quando o deputado assume de vez as politicagens necessárias para ser eleito, embora se dê o direto de criticar as alianças feitas, por exemplo, pelo PT quando o partido chegou à Presidência da República em 2003: "Saí do PT quando o PT saiu de si".

Sua possível aliança com Fernando Gabeira dificilmente formará uma candidatura de enfrentamento ao péssimo modelo de gestão que a cidade carrega desde os mandatos de Cesar Maia - que teve o PV de Gabeira em seu secretariado. Ou seja: aliança PT-PMDB é coisa de partido vendido; PSOL-PV é necessidade imposta pelo sistema político brasileiro.

Até Romário, hoje deputado federal pelo PSB/RJ e até outubro de 2010 mais um candidato-galhofa, tem conversado sobre as eleições de 2012 com Marcelo Freixo. A justifica é tão coerente quanto protestos contra corrupção pela orla do Leblon:
"A grande aliança é com a sociedade civil. Interessa muito o apoio da Marina Silva, que está num campo ético. Vou conversar com o Romário, por que não? O Romário tem sido um aliado nas brigas nossas contra a CBF. Estamos conversando com o Gabeira."  
O deputado federal Romário (PSB/RJ) no apoio à Marcelo Freixo "brigando" contra a CBF.
Foto: Jorge William/Agência O Globo

Freixo parece escolher momentos e temas que lhe permitam sair atirando para todos os lados, angariando votos que jamais seriam dados a ele, candidato sem experiência no poder executivo e assumidamente socialista.

É assim que ele permite classificar o filme "Tropa de Elite 2" como "um primor do cinema", destacando: "O personagem (deputado Diogo Fraga) é mesmo muito baseado em mim".

É dessa forma que ele confirma o discurso do medo e aponta a "segurança pública" como principal problema do Rio, a cidade partida. Desigualdade social? Moradias sem dignidade? Transporte caro e sem qualidade? Não, esses não parecem ser assuntos principais para Marcelo Freixo.

A candidatura de Freixo poderia, sim, significar um avanço na política carioca, mas parece que estamos caminhando para uma reedição do que aconteceu em 2008: uma parcela da população (auto-intitulada elite intelectual da cidade) tem se entusiasmado com um rosto novo, uma falsa ideia de renovação, esquecendo-se de pensar projetos, ideias e, principalmente, viabilidade.