12.11.11

SÉRIE - Futebol para todos: muito além do grito de gol

3) A história se repete. Chegou a hora de aprender com os hermanos.


Desde que chegou ao Brasil, o futebol encontrou na cidade do Rio de Janeiro um belo cenário para desenvolver-se e tornar-se popular, sendo referência no país durante muito tempo. A influência política e cultural da cidade explica, em parte, a enorme quantidade de torcedores de Vasco e Flamengo em diversos estados brasileiros.

O tempo passou e muitas mudanças aconteceram. Algumas partes da história, entretanto, não apenas têm se repetido como talvez nunca tenham sido diferentes. Matéria de 1961 republicada recentemente na seção "Há 50 anos" de O Globo é um exemplo: "No choque de interêsses, o prejudicado foi o torcedor" (veja aqui). 

O conflito denominado pelo jornal como "caso dos clubes cariocas x TVs" se dava pelo fato de os clubes cariocas não terem autorizado as transmissões televisivas dos jogos e, por isso, terem sofrido retaliação por parte do governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda. O governador era claro aliado de uma televisão que tinha pouco poder à época e exerceu seu poder aumentando o preço dos ingressos e proibindo o uso do Maracanã para jogos que não fossem transmitidos.

Qualquer semelhança com os desmandos da CBF e de Ricardo Teixeira dos últimos 23 anos podem não ser mera coincidência.

A Ley de Medios
Reeleita presidenta da Argentina recentemente, Cristina Kirchner teve muitos êxitos a apresentar durante sua campanha, sobretudo no que diz respeito ao crescimento econômico do país e melhora nos índices sociais (como diminuição do desemprego e aumento do poder de compra da população). O desafio, ela reconhece, foi iniciado no governo do seu marido, Néstor Kirchner, empossado presidente em 2003 e morto há pouco mais de um ano.

A Lei de Mídias, de 2009, provocou uma revolução no cenário argentino, uma vez que desmontou os grandes grupos de mídia do país balizada em noções básicas de liberdade de expressão. O que, afinal, podemos aprender com nossos vizinhos e o que isso tem a ver com o futebol brasileiro?

Até então concentrado nas mãos de um grande conglomerado de mídia (o do jornal Clarín), o futebol argentino recebeu um forte incremento de verba quando passou a ser atração da TV pública. O poder do Estado argentino foi superior aos interesses privados e permitiu que os campeonatos de primeira e segunda divisão pudessem ser transmitidos também nas emissoras privadas interessadas.

Repetir a iniciativa por aqui parece pouco provável, uma vez que os clubes brasileiros detêm poder total sobre seu direito de imagem e podem negociar individualmente com emissoras diferentes. A liga de futebol daqui (leia-se CBF) não tem a autoridade de negociar em nome de todos os clubes e fechar, por exemplo, com a pública TV Brasil. De certa forma era assim que acontecia até este ano, quando a responsabilidade era do Clube dos 13, rapidamente desautorizados pelos clubes grandes e seguidos pelos menores.


O dinheiro público pode ter destinos mais importantes do que o futebol brasileiro, é verdade. Não parece ser possível tampouco necessário gastarmos bilhões de reais com entidades desportivas que já devem tanto e, além disso, são pouco transparentes nos seus gastos (embora o uso do dinheiro público exija o contrário, o que seria um ganho). Nosso aprendizado com os hermanos é simples: a TV pública pode e deve concorrer com a iniciativa privada, sendo mais democrática e plural.

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O blog Pra Escrever apresenta uma série de postagens sobre as negociatas e politicagens do futebol brasileiro, reunindo publicações e críticas recentes da imprensa.

1) O jogo em que Ricardo Teixeira é o capitão.
2) Os contratos de transmissão no Brasil.
3) A história se repete. Chegou a hora de aprender com os hermanos.

   

9.11.11

Exemplos: Twitter e protagonismo; televisão e passividade.

O avanço no uso da internet e a queda na audiência das TVs e na venda de jornais e revistas têm sido responsáveis por iniciar discussões muito variadas, em que uma dúvida/temática é frequente: a televisão vai perder importância? Os jornais pararão de circular?

No Brasil, as ferramentas que centralizam essas discussões não tomam o espaço da televisão, o veículo mais utilizado e influente, pelo menos agora. No Twitter, os trending topics (os assuntos mais comentados no Twitter em determinado momento) sempre têm referências aos programas de televisão, indicando que as duas mídias não competem, mas completam-se.

Dessa forma a discussão tem outros focos. 

O avanços dos meios técnicos e informacionais mudou as relações de produção e consumo de notícias e cultura em geral, em todo o planeta. As redes de comunicação (incompletas por definição) tornam alguns pontos mais ou menos integrados à ela, é verdade, porém as mudanças são inegáveis e irreversíveis. 

Hoje temos espaço para protagonismos democráticos, sob dois eixos: 1) todos que tenham acesso a esses meios técnicos podem produzir notícia e contribuir com pareceres diferentes (mais democrático, portanto); 2) optar pelo que ouve e lê, em meio a cada vez mais ofertas. A natureza dessas tecnologias que podem veicular informação e/ou cultura é descentralizadora e assim o internauta tem muitas possibilidades à sua frente e não apenas a visão parcial e restrita dos grandes grupos de mídia.

Saímos da dependência total das grandes redações, por exemplo, e temos a possibilidade de sermos mais livres. A grande redação continuará tendo importância, sim, mas coexistirá com outras formas de produzir notícias.

O Twitter sozinho nada faz. Ainda que existam usuários do microblog leiam mais do escrevam, estes optam por quem vão seguir. A televisão, símbolo da comunicação no Brasil há tanto tempo, caracteriza-se por levar ao telespectador o produto finalizado, já formatado, com crítica e tudo. Torna o receptor da mensagem passivo

Uma enorme quantidade de canais na TV aberta ou fechada e até mesmo muitas revistas e jornais em circulação não significa democracia e pluralidade, principalmente no Brasil em que onze famílias controlam o que vai ser discutido nesses meios tradicionais. A diversidade só acontece quando todos os atores sociais - negros, sem-terra, mulheres, nordestinos, favelados etc - têm chance de falar

Essas minorias não veem espaço para seus discursos nas grandes redações, mas podem formar uma.

7.11.11

Ignacio Ramonet no "É notícia"

O programa "É notícia", apresentado pelo jornalista Kennedy Alencar na Rede TV!, mostrou nessa semana uma entrevista com o sociólogo Ignacio Ramonet. Um dos criadores do Fórum Social Mundial, Ignacio falou sobre a imprensa mundial e seu papel no mundo com a internet, o papel do Wikileaks, além de ter uma posição coerente sobre o regime político cubano e o embargo promovido pelos EUA ao país latino há tantos anos.

Vale a pena assistir!