30.11.15

Página vinculada a PMs do Rio comemora execução de jovens

Cleiton (18 anos), Roberto (16), Carlos (16), Wesley (25) e Wilton (20). Jovens moradores da periferia do Rio, estiveram no caminho de policias militares na noite de 29 de novembro, domingo, quando voltavam do Parque Madureira, na zona norte da cidade. Estavam em um Palio branco, que recebeu dezenas de tiros e levou à morte imediata os cinco jovens que chegavam à comunidade da Lagartixa.

O comandante do 41º Batalhão da Polícia Militar (Irajá), Tenente Coronel Marcos Netto, foi exonerado. Quatro policiais que atuaram no caso foram presos em flagrante por homicídio e fraude processual.

Ainda na noite de domingo e na madrugada de segunda-feira, uma página no Facebook intitulada "Sou guerreira e corajosa, sou Policial Feminina" comemorava o acontecido: "Iniciando a semana limpando a cidade... Mais 5 vagabundos, que estavam dentro de uma (sic) Palio, foram para a vala no acesso ao morro da Lagartixa... Que Deus conforte os familiares"

A postagem, que já foi retirada do ar, trazia fotos dos corpos dentro do carro. As imagens eram fortes e não havia indicação de seu autor, mas ficava claro que haviam sido feitas momentos depois do crime bárbaro.

No final do texto, mensagens em forma de hastag revelam o apoio dado a esse tipo de operação: "#muitobom # aplausosparao41BPM #PMERJ #operaçãoporumRiomaislimpo #forçaehonra"

Veja abaixo a postagem feita pela página.

17.2.15

O patrocínio dos enredos das escolas de samba: uma nova antiga polêmica

Sétima colocada no desfile do Grupo Especial de 2014 com um enredo confuso em que homenageava Boni, ex-diretor geral da TV Globo, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis protagoniza uma polêmica antes mesmo de realizar o seu desfile nesta segunda-feira (16). 

Cantando e contando a Guiné Equatorial com o enredo "Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade", a agremiação da Baixada Fluminense (a maior vencedora desde que o Sambódromo foi inaugurado) recebeu pelo menos R$5 milhões em patrocínio do governo do país homenageado, segundo reportagem da BBC Brasil.

A polêmica, entretanto, se dá pelo fato de o presidente Teodoro Obiang Nguema estar no poder há mais de 35 anos e violar diversos direitos humanos. A reportagem indica, ainda, que o presidente é o oitavo líder político mais rico do mundo segundo o ranking da revista Forbes. Aceitar esse tipo de apoio, portanto, deveria gerar certo desconforto.

O exemplo da Beija-Flor para 2015 talvez seja o mais extremo, mas nos últimos anos a profusão de enredos patrocinados pedem uma análise mais complexa do tema. O primeiro ponto a ser refletido é: por que as escolas de samba são escolhidas como forma de publicidade se não possível expor as marcas nos desfiles ou mencioná-las nos sambas de enredo? A resposta (prematura) tem relação com a importância simbólica do evento, há décadas considerada a maior festa brasileira e até mesmo uma síntese cultural do país.

Vejamos o caso da Vila Isabel. Em 2006, quando conquistou seu segundo título, o enredo "Soy loco por ti, América: a Vila canta a latinidade" havia sido patrocinado pela estatal petrolífera venezuelana PDVSA e a homenagem a Bolívar foi o enfoque costurado pelo carnavalesco, o que certamente fora exigido pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Os versos do samba enredo podem não ser considerados históricos, mas o desfile foi bonito e a mensagem teve importância justamente por ressoar a partir do Brasil, país que não viu a presença e atuação do libertador latino-americano.

Já em 2013, a ideologia propagada pela escola aparentemente foi diferente. O patrocínio veio da alemã BASF, empresa que detinha o monopólio da indústria química durante o nazismo e que atualmente atua em diversos mercados, inclusive no agronegócio produzindo agrotóxicos. Não por acaso, o enrendo pretendeu-se menos "agressivo" do que pode parecer e buscava valorizar o homem do campo, sua vida simples e suas práticas culturais. "A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais um" foi o melhor samba do ano e, talvez, um dos melhores já ouvidos na Sapucaí. Valeu o título.

As alegorias e fantasias desenhadas pela experiente e competente Rosa Magalhães traziam representações de um Brasil rural que não usava agrotóxicos ou ficava doente por isso, mas falava de fertilidade quase divina e da alimentação do mundo pelas mãos dos trabalhadores rurais. Não se viu, também, um sem-terra qualquer. Isso é mais do que óbvio, afinal nenhuma empresa pagaria para fazer anti-marketing, mas não é plenamente justo - digamos assim. No final das contas, os milhões que garantiram o trabalho vitorioso da Vila atenderam aos interesses do agronegócio. Exagero? Talvez.

Por que só agora, em 2015, um patrocínio causa tanto incômodo? O tema merece ser discutido dentro e fora do mundo do samba, mas será que cabe indignação seletiva? O discurso (antigo e) recorrente de ver as escolas como um antro de foras-da-lei e cúmplices deve ser mantido? Tenhamos calma.

É fato que as escolas de samba pecam em transparência quanto ao uso dos recursos públicos (federais, estaduais e municipais), mas esse não é o único problema tampouco deve ser o único de interesse público. Também deve causar perplexidade e atenção quando as escolas oferecem seu espaço com grande valor (comercial, cultural e histórico) para empresas e seus interesses econômicos e ideológicos. Não é preciso negar ingenuamente que o tempo das "Escolas de Samba S.A." já chegou e se estabeleceu, mas pensar que apenas um ditador africano explica a questão é bobagem. Quem vai ser o juiz nessa disputa por atuação ética na passarela do samba?

29.1.15

Sambistas na guerra pela democratização da mídia?

Coincidências do mundo do samba: depois de um desfile (de qualidade questionável) em homenagem ao Boni e à Globo, a emissora limita ainda mais sua transmissão do desfiles das escolas de samba do Rio.

Faz parte da minha memória carnavalesca: todo ano, enquanto a Globo exibia o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, ouvia os familiares reclamando da qualidade da transmissão e sentindo saudades da TV Manchete. "A gente não vê todas as alas!" e "Eles mostram tudo muito rápido" eram os reclames mais frequentes.

O tempo passou e parece que há ainda mais motivos para reclamar. Nos últimos dias pelo menos duas notícias desanimaram aqueles que gostam de assistir aos desfiles pela TV (afinal, ir ao Sambódromo é caro demais): primeiro, a Globo decidiu que não irá transmitir o desfiles da campeãs; depois, informou que os desfiles das primeiras escolas no domingo e na segunda-feira (Viradouro e São Clementes, respectivamente) não serão exibidos ao vivo.

A questão do horário dos desfiles sempre foi um problema para a Globo, inclusive quando haviam 14 escolas no grupo especial a desfilar nos dois dias. Com as atuais seis escolas por noite, a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba) atendeu aos apelos da emissora e os desfiles passaram a começar mais tarde. 

Há alguns anos, um acordo da Band com a Globo garantia a transmissão do desfile das campeãs. Entretanto, já no ano passado a emissora do Jardim Botânico optou pela transmissão através do canal Viva, na TV paga, o que não vai se repetir.

Para 2015, ao que parece a emissora resolveu falar "mais grosso". Decidiu o que vai transmitir ou não e ponto, sem acordo. O presidente da LIESA, Jorge Castranheira, diz que não tem o que fazer em relação à sua parceira. Será mesmo? Detentora dos direitos de transmissão com exclusividade, a Globo faz o que quer e não parece não ter medo da rejeição (já antiga) no mundo do samba.

O resultado pelo destrato da emissora talvez possa ser medido pela audiência: em 2014 a Globo registrou recorde negativo nos índices do IBOPE. Pudera. Apesar da escalação de Fátima Bernardes, e time de apresentadores e comentaristas carece de carisma e, principalmente, conhecimento sobre o samba, as escolas e os enredos.

2014 foi também o ano da babação de ovo homenagem que a Beija-Flor de Nilópolis fez ao famoso diretor geral da TV Globo, Boni. Com um enredo confuso, um samba de qualidade duvidosa ("Boni/Tu és o astro da televesão/Fiz da sua vida minha inspiração/Vem... a festa é sua, a festa é nossa, de quem quiser/Mostra que babado é esse de samba no pé") e um desfile que rendeu apenas a sétima colocação para a escola. Até mesmo o "esquenta" da escola rendeu polêmicas: antes de começar o desfile, o intérprete Neguinho da Beija-Flor entoou os versos do jingle Globeleza. A repercussão negativa de jornalistas, estudiosos e fãs do carnaval das escolas de samba surpreendeu o diretor de carnaval da escola, Laíla, que disse não saber que a Globo e Boni eram tão odiados.

Democratizar a mídia dá samba

Se a homenagem não serviu para amolecer as decisões arbitrárias da TV Globo sobre a transmissão do carnaval, fica a pergunta: será mesmo que a emissora é parceira inquestionável do carnaval carioca e das escolas de samba?

Um projeto de democratização da comunicação passa, também, por valorizar e incentivar as práticas culturais tanto nacionais quanto regionais. Não basta apenas dar grande visibilidade, é preciso entender a importância da festa e tratá-la com o devido respeito.

O discurso frequente do "Use o controle remoto!" evidentemente não faz sentido.Primeiro porque a Globo abusa do seu poder econômico e tem monopólio sobre os direitos de transmissão e, principalmente, porque a audiência não é medida em todos os televisores. O que mudará, de fato, essa realidade é a regulação econômica do setor, capaz de desmontar monopólios, equilibrar o mercado e fortalecer o sistema público de comunicação.

Valorizar a televisão pública, ao que parece, é o caminho para resolver a pendência carnavalesca. Qualquer emissora privada tem interesse no lucro e pode colocá-lo à frente da vontade do público em assistir todos os desfiles das escolas de samba.

Na Argentina, para efeito de comparação, é TV pública quem detém os direitos de transmissão do futebol, mas libera o sinal para outras emissoras transmitam os jogos. Não está na hora da TV Brasil transmitir a outra paixão dos brasileiros?

____________________
Em 2011, o blog Pra Escrever escreveu sobre isso em uma série intitulada "Futebol para todos: muito além do grito de gol"


15.1.15

Mas eu tô pagando!

Todo rico acha que as demais pessoas são pobres. Parece que enxergam um medidor de riqueza invisível, daqueles que só os ricos enxergam. É uma coisa impressionante. 

Falam com cuidado e respeito com o médico, embora possam ter destratado a atendente ao serem surpreendidos ao saberem que plano não cobriria a consulta. Aí, quando avistam outro rico na sala de espera, começa aquele rio de reclamações sobre o absurdo que é ser classe média no Brasil (eles nunca se assumem como ricos, só quando encontram o Amaury Jr.).

Rico é tão previsível que o rio de reclamações sempre deságua no governo, não importando qual seja, porque rico que é rico paga muito imposto (na visão dele...). Rico também adora reclamar e jogar o "tô pagando" com atendente de telemarketing, só que com um detalhe: joga o Procon no meio ou ameaça um processo. Rico adora falar para outro rico que ganhou uns trocados da empresa tal depois de um processo. Vida de rico não é fácil!

Para que o rico conviva quase que exclusivamente com outros ricos, a ponto de nem saber com qual pobre se relaciona, ele cria uma história de superação sobre si mesmo. Depois, comenta com seus iguais que sofreu muito, por exemplo, tendo que pegar metrô para fazer estágio no escritório do papai. Nessas horas, sempre tem um rico que detalha a vida difícil do "vovô" que veio da Europa sem nada. Rico que é rico, se vai migrar, migra de outro continente!

Rico é impaciente também, principalmente quando está pagando. Rico fica pê da vida com os blocos de carnaval e o movimento para a queima de fogos na praia. No caso do reveillón, o rico tem motivo pra imitar o pobre e já cria logo uma associação de moradores. Na entrevista para a TV, o representante da associação não diz, mas gostaria de falar que paga um-dos-IPTUs-mais-caros-da-cidade.

Um dos espaços em que o rico mais se mostra como rico é na escola. Na maioria das vezes a criança rica ou o adolescente rico lembra dessa condição ao discordar do professor (pobre) e grita na sala de aula que está pagando. É nesse momento prematuro que começa a ser formado um rico de verdade. É aquele que se impõe, que não pede desculpas, que não admite que errou. Normalmente, esse comportamento é explicado porque o rico não considera ser ridicularizado.

Poucas relações deixam tão claro quem é rico e tá pagando quanto a do rico com os empregados. Rico bom é aquele que aceita, mas na verdade tá put* com o atraso da empregada. Ou que se segura e conta para outros ricos o estrago que a Fulana fez no vestido novo. Rico também não admite que o empregado tenha filhos, afinal eles têm muitos, sempre tiveram, têm parar de ter porque eu quero é melhor assim.

O auge da riqueza, entretanto, é no trato adequado com o garçom. Para começar, é preciso dizer, sentado à mesa, que no Brasil o serviço não presta. Nunca. Só se o Rio virar Paris, aí é que talvez o serviço melhore. Os garçons daqui não sabem a diferença entre bem passado e ao ponto e o rico fica naquela dúvida cruel. Mandar o prato voltar ou comer assim mesmo? É melhor comer o troço e depois mandar um e-mail pro "Rio Show"... Até que o outro rico da mesa dá a senha: "Mas você tá pagando!!!".

____________________________________
Esse texto não foi escrito por um jornalista que supervaloriza seus próprios textos. Por não ter dicionário em casa, posso ter cometido algumas falhas - o que me preocupa porque pode me sujar. O mais importante, porém, é que mesmo sem ser rico, profissional ou mesmo criativo, não acredito em humor que se apropria da minoria ou quando o objetivo não é rir de si mesmo.    

2.1.15

Uma carta para a dama da elegância, Cora Ronai

Cara Cora:

É com ligeiro atraso, peculiar deste modesto blog, que vou perder meu tempo contigo (e com sua personalidade e posicionamento político confuso e duvidoso). 

Como você mesma publicou no Twitter, nas últimas horas sua conta conseguiu grande número de seguidores em função dos comentários de péssimo gosto sobre a "deselegância - do vestir, do andar, do jeito de ser" da presidenta Dilma Rousseff. 

Em função disso você: comemorou os novos seguidores em um tom de deboche (típico de gente elegante), disse que petistas são "uma raça" e que formam uma "patrulha" (como petista, sugiro que no próximo tuíte nos surpreenda e lance um "petralha!") e se espantou por receber respostas e críticas te vinculando a Rede Globo (por que será, hein?!).

Mesmo sendo da "raça" e da "patrulha", preciso reconhecer que você se desculpou e não apagou as postagens dignas de vergonha. Só que, pra mim, a emenda saiu pior do que o soneto e explico o motivo. 

Sempre que uma polêmica vinda de vocês (os jornais grandes desse grande país) surge, eu não me surpreendo. Sou pouco experiente, mas já entendi do que vocês são capazes. Sei que jogam baixo. Sei que não rola incômodo só pelo ministério recém-empossado. É mais do que isso, mas vocês (auto-intitulados "jornalistas independentes") explicam tudo com um já manjado "liberdade de expressão". Ok, vamos acreditar. 

Só que eu me surpreendi! Como o assunto rendeu ao longo do dia, resolvi visitar sua time line e me senti verdadeiramente ofendido com o que li. Como sua elegância é peculiar, Cora! Como sua liberdade me aprisiona numa ofensa desnecessária!

É surreal chegarmos a 2015 e você tratar um grupo com o qual você não concorda por "raça". Entenda uma coisa, Cora: não tem nada que justifique alguém tão elegante como você ser, ao mesmo tempo, tão grosseira. E preconceituosa. 

Será que você saberia identificar a "raça" em outra situação? 

Será que todos os petistas andam com tão pouca elegância quanto a presidenta? 

Será que os petistas que foram grosseiros contigo representam o todo? 

Isso sem falar no RT dado ao seu (provável) colega de ideologia sobre a "turma boa" (Dilma, Temer, Renan e Lewandowski). Elegância à parte, mas... caralho!!! Tu acha mesmo que o presidente do STF mereça esse desprezo? Por qual motivo? Por ter batido de frente com o Batman Joaquim Barbosa?

Cora, vamos lá... Você é capaz de, com toda sua elegância e independência, discutir com seriedade sobre o STF e sobre o ministro Ricardo Lewandowski? Tô perguntando na boa, porque eu teria que me informar melhor pra isso. Nessa conversa eu começaria com dois pontos a menos no teu placar: por ser petista (afinal vocês acham que não temos senso crítico algum) e por falar sobre um assunto que não domino. A questão é que desprezando o que profissionais como você escrevem, mas apelando ao que leio na internet e ao que ouço dos advogados da roda de amigos, Lewandowski é um nome muito respeitável. Suponho que respeito não faça parte da sua coleção de elegância.

Seja coerente, Cora! Assuma seu lado, assuma sua raiva em ver a "raça" governando esse país com maioria dos votos do povo brasileiro. Ser honesto é mais elegante do que qualquer vestido ou jeito de andar. Mude o patamar da sua análise, pois parece que você também tem respostas manjadas e que elas não ultrapassam os limites da redação d'O Globo.

Por fim, sugiro que você pesquise uma entrevista completa dada pela então ministra Dilma sobre sua passagem pela prisão durante o período militar (originado com o Golpe de 64 que o jornal em que você trabalha comemorou chamando de "revolução" e que, por isso, pediu desculpas [que nem você!!!] 50 anos depois [tu foi um pouco mais rápida...]). A entrevista me emocionou. Ok, ok... sou da "raça", mas... Dilma é uma mulher tão forte que pedir desculpas por comentários tão infelizes sobre sua elegância parece-me pouco. Não vou entrar no mérito do cargo que ela ocupa, da formalidade e da simbologia da posse porque sua elegância transbordante já deve compreender.

O fato é: querendo você ou não, Dilma está lá. E com AQUELE defeito na roupa: uma faixa verde-amarela.

28.10.14

Chegou a hora: lei de mídias já!

No último domingo, por volta das 18h, já estava na Lapa e reparava o movimento de pessoas adesivadas e com bandeiras da campanha à reeleição de Dilma Roussef. Pouco tempo depois, o bar Vaca Atolada, lotado de petralhas já comemorava a vitória na mais dura eleição presidencial. Teve espaço até pro "Quem não pula é tucano!!!". 

A eleição foi difícil e mesmo não participando ativamente nem mesmo com atualizações nesse simples blog, o sentimento foi de alívio. Li e ouvi muitos relatos de indiferença e ódio daqueles que declararam voto em Dilma. Poderia fazer os meus relatos também - isso sem falar no chorume espalhado pelas redes sociais sobre os mais diversos temas - de Bolsa Família ao porto de Cuba. Não dava pra não comemorar.

Ainda na Lapa, a militância se reuniu sob os Arcos onde havia um trio elétrico e um telão, por onde assistimos o discurso da presidenta recém-eleita. Foi nesse discurso que a militância gritou sua resistência (especialmente) à TV Globo.

O recado já havia sido dado pelo governo e pelo PT há tempos. Só que a paciência se esgotou.

Durante o primeiro mandato, Dilma pouco falou sobre o assunto. A proposta de lei que regulamenta as concessões, escrita ainda no governo Lula pelo ministro Franklin Martins, foi deixado no fundo da gaveta de Paulo Bernardo.

No Encontro Nacional de Blogueiros desse ano, em São Paulo, a (histórica) fala do presidente Lula deixou claro: estava na hora de colocar pra frente uma proposta de mídia mais democrática.

Dilma voltou ao assunto de maneira extremamente tímida durante a campanha - atitude decisiva e estratégica.Um debate na Band, por exemplo, não é local mais apropriado para tratar do assunto. Seria como repartir pedaços de carne na cela de leões famintos. O assunto requer uma discussão mais profunda.

E hoje, poucos dias após o segundo turno, o perfil da presidenta foi atualizado com uma excelente notícia.

Estamos no caminho!

Uma das minhas críticas aos governos do PT foi a demora por assumir a urgência do tema, mas tenho certeza de que somente o partido é capaz de botar o assunto para frente.

O desafio está lançado.

Mesmo aqueles que não militam na causa precisam se informar para que até mesmo aquelas conversas mais rotineiras sejam bem orientadas. A grande mídia já deve estar em alerta. Daqui a pouco começa o festival de ameaças evocando as mais tristes lembranças da imprensa censurada a partir do Golpe de 64 (embora eles "esqueçam" do apoio que deram a ditadura...).

Estamos vivos. Mais vivos do que nunca!

2.9.14

Conquistamos um novo Brasil, mas o que ainda falta?

Depois de quase 12 anos de governos petistas, o Brasil avançou muito.

Temos a menor taxa de desemprego da história, uma política consistente de reajuste do salário mínimo sempre acima da inflação, quase 40 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média entre muitas outras conquistas.

Apesar disso, os candidatos da oposição têm insistido que a inflação está descontrolada e que estamos em recessão econômica. Até aí, nenhuma novidade. Quem tem pouco a mostrar costuma recorrer a críticas mesmo que fora da realidade.

Outra acusação frequente à presidenta Dilma Rousseff vem da candidata do PV da Rede do PSB, Marina Silva. Segundo ela, Dilma não reconhece seus erros. 

Bingo! Tá aí algo em que concordamos. 

Está na hora da presidenta assumir que temos uma política muito atrasada de comunicação institucional. O governo gasta muito, mas gasta mal (mesmo que tenha aumentado o número de contratos com pequenos veículos contratados pela Secretaria de Comunicação, a Secom) e o resultado é que, na prática, o governo espera calado por anos enquanto a mídia tradicional destroça a opinião pública com um sentimento de crise que não simplesmente não existe.

Jornalismo pé-no-tomate


Segundo dados do Ministério do Trabalho, somente no governo Dilma foram gerados mais de 5 milhões de empregos. Esse número é superior àquele alcançado pelo governo tucano: também cerca de 5 milhões de empregos, mas em oito anos de FHC por isso que o Aécio não mostra o doutor na campanha?).

Apesar disso, o noticiário sobre o governo e a presidenta é negativo. 

Analise com calma os dados coletados pelo Manchetômetro e confirme: em 2014, somente o Jornal Nacional dedicou 1 hora e 22 minutos para "notícias desfavoráveis" contra 3 minutos de "notícias favoráveis" sobre Dilma e seu governo. 

Por outro lado, Aécio recebeu quase 8 minutos de noticiário positivo (mesmo em uma atuação cambaleante no Senado) e Eduardo Campos acumulava mais de 30 minutos de "reportagens neutras" no começo da corrida presidencial.

Todo mundo sabe que a audiência do JN definha ano após ano. O recorde negativo significa menos de 20 pontos no IBOPE nas edições mais recentes.

(Quem banca as pesquisas do IBOPE, amigo navegante?)

Veja aqui alguns números e a análise feita pelo Diário do Centro do Mundo, mas considere: será que a notícia do JN-o-telejornal-mais-importante-televisão-brasileira é diferente daquela vista na Globo News? É alternativa aos temas e análises feitos pela Folha de S. Paulo? Destoa das manchetes da Veja? A resposta é um grandioso não.

Fazendo parte do mesmo grupo midiático ou estando na "concorrência" (e haja aspas aí!), a linha editorial desses veículos, publicações e programas é a mesma. Mais ou menos aprofundada; mais ou menos conservadora; mas é a mesma.

Por aí dá pra entender os motivos de um governo que tem enfrentado os efeitos da maior crise da história do capitalismo com emprego, salário e inflação sob controle apresentar uma oposição tão consistente nesse discurso lunático. O que eles falam têm embasamento no noticiário, assim pensa o eleitor.

O resumo da história pode ser melhor compreendido nesse texto de Helena Sthephanowitiz, publicado no Blog da Helena da RBA, mas no geral fica entendido assim: "Segundo IBOPE, avaliação do governo Dilma sobe e maioria (76%) se diz satisfeita com a vida. E se 30% pensam que a economia vai mal, como pode 68% acharem que sua vida estará melhor em 2015?".

Não é preciso duvidar dos números para chegar aonde queremos. No dia a dia, as pessoas têm percebido a melhora de vida, mas quando recorrem aos meios de comunicação (que ainda gozam de credibilidade), têm um noticiário extremamente negativo.

Não é preciso recorrer a nenhum tipo de manipulação para pensar em alternativas, mas fica a pergunta: o governo vai continuar errando e apoiando essa mídia?