Dessa forma, escolhi com certo entusiasmo o filme "Primeira página: por dentro do New York Times", do diretor Andrew Rossi. O trabalho começa evidenciando os problemas que a publicação vem enfrentando nos últimos anos, sobretudo com perdas significativas em publicidade (valores pelo menos 30% menores de um ano para outro) e o crescimento das novas mídias e daquelas consideradas não-tradicionais.
Entretanto, o que se vê por dentro da redação do mais importante jornal dos Estados Unidos são demonstrações desnecessárias de poder e de ego de um outro diretor (inclusive em encontros promovidos para discutir o futuro do jornalismo em tempos de Internet) e demissões promovidas pela direção da publicação, justificada por questões financeiras - "Uma ação do Times custa menos do que uma edição de domingo", diz um dos entrevistados.
O filme nada mais é do que uma tentativa de fazer os espectadores acreditarem que mesmo em um novo mundo (em que a Internet e as técnicas de comunicação são fundamentais) a influência do jornal permanecerá. Há controvérsias.
A questão que talvez nem todos percebam (principalmente os ainda entusiastas desse jeito tradicional de produzir notícias, inclusive jornalistas) é que a própria fita dá os sinais das mudanças que vivem o jornal: mostra que, em 2001, ao publicar matérias sobre os armamentos nucleares no Iraque isso significou verdade absoluta na opinião pública estadunidense. O contraponto: sete anos depois, enquanto uma rede televisiva afirmava que a ocupação dos EUA no Afeganistão havia chegado ao fim, a redação do Times se encontrava perdida sobre como tratar um assunto que eles não dominavam.
Uma dos momentos finais do filme é um dos piores: "a notícia não vai morrer", diz um dos participantes do documentário ao garantir o futuro do The New York Times. A notícia vai continuar existindo, sim - com ou sem grandes jornais. Aliás, penso eu, quanto menos concentrada for a produção de notícia - leia-se: sem grandes corporações da informação - mais diversificadas serão as notícias que teremos sobre o mundo.
Já escrevemos (e pode ser lido aqui) que quanto menos dependermos dos grandes jornais e agências de informação, mais protagonistas existirão para que a notícia, uma interpretação dos fatos, possam surgir.
Quando morrem ou agonizam os grandes órgãos da imprensa mundial, a notícia vive.
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