Quando decidi fazer vestibular para Geografia, muito já havia passado pela minha cabeça. É aquela história: tinha uns dezesseis anos, pouca noção de mundo, um monte de inseguranças... Estava tentando entrar na universidade pela segunda vez. Na tentativa anterior havia escolhido Ciências Sociais. Queria me especializar em/estudar Ciências Políticas. Na verdade, compreendi um tempo depois, queria mesmo era entender e mudar algumas situações dentro da política brasileira, aquela mais básica, a partidária.
Nada acontece por acaso, dizem por aí, e o fato de não ter sido aprovado no meu primeiro vestibular me levou a excelentes aulas (de Geografia!) num curso preparatório. Aquilo que eu já estudava na escola (e achava que era enrolação do professor) estava sendo apresentado também no pré-vestibular e acabou sendo determinante na minha escolha pelo curso com que tive rápida identificação, Geografia. Acabei aprovado na UFF e entrando na universidade no segundo semestre de 2006.
Na política brasileira o ano de 2006 foi, no mínimo, agitado. As denúncias sobre o mensalão pegavam fogo e estampavam as capas dos jornais há meses. As revistas semanais insistiam em tratar do mesmo assunto: mensalão e demais denúncias de corrupção contra o governo Lula. Isso não seria ruim se não fosse com jeito de golpe - as revistas tratavam e repercutiam os assuntos da mesma forma: suposições, denuncismo, declarações não provadas etc. Lembro com clareza que meu interesse em acompanhar o cotidiano da politicagem brasileira acabou se esvaindo em meio às prioridades que o vestibular e os primeiros períodos da universidade me impunham - tempos muito bons como calouro!
Embora não tivesse votado em Lula para sua eleição em 2002 por não ter 16 anos, fiz campanha e acompanhei emocionado sua posse em 2003. Já estava certo que meu primeiro voto para presidente seria dele, na sua reeleição. O "espetáculo do crescimento" da economia brasileira aconteceu mesmo e a melhora na qualidade de vida da população brasileira começou a ser impossível de não perceber e, principalmente, de não noticiar. O desemprego caía, o salário aumentava, algumas profissões começavam a sofrer os "apagões de mão-de-obra" e o Brasil crescia.
Os dados eram incontestáveis e a reeleição do presidente Lula (e seu projeto político) acabou sendo garantida - para o bem do povo brasileiro. A eleição foi dura. Lula precisava (re)pensar sua estratégia com enorme frequência porque o sem-graça e sem-ânimo Geraldo Alckmin (PSDB) tinha força e apoio infinitos vindos da imprensa conservadora e de elite brasileira.
O fato é que muitos anos se passaram desde que Lula tomou posse.
O Brasil mudou (para melhor) num ritmo nunca visto. E, agora, enquanto Dilma colhe os frutos do seu governo e do projeto político que Lula encabeçou, algumas contestações começam a ser frequentemente irritantes.
De uma hora para outra, o preço do dólar não é mais discutido e noticiado nos telejornais como se fosse o gravíssimo problema da economia brasileira. Em 2002, o "efeito Lula" (?) justificava a cotação da moeda estadunidense batendo a casa dos R$5.
De uma hora para outra, analisar o salário mínimo em dólares não é mais um bom parâmetro. Quando FHC saiu do poder, o salário mínimo brasileiro equivalia a uns US$70; hoje, vale mais de US$200. Em dez anos dos governos Lula-Dilma o salário mínimo saltou de R$240 para R$678 - um aumento de 280%.
De uma hora para outra, o número de universidades e escolas técnicas sendo criadas perdeu totalmente o seu valor. Foram centenas de novas escolas técnicas (214, mais precisamente) em todo o país e mais dezenas de novas universidades e campi.
De uma hora para outra, analisar o salário mínimo em dólares não é mais um bom parâmetro. Quando FHC saiu do poder, o salário mínimo brasileiro equivalia a uns US$70; hoje, vale mais de US$200. Em dez anos dos governos Lula-Dilma o salário mínimo saltou de R$240 para R$678 - um aumento de 280%.
De uma hora para outra, o número de universidades e escolas técnicas sendo criadas perdeu totalmente o seu valor. Foram centenas de novas escolas técnicas (214, mais precisamente) em todo o país e mais dezenas de novas universidades e campi.
De uma hora para outra, os mais de 30 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média formam um número questionável, cheio de dúvidas.
Quando a minha professora de Geografia lá na 5ª série, a Denise, falava sobre o Brasil e as classes sociais daqui, ela desenhava uma pirâmide e destacava a desigualdade que marcava nossa história. A maior parte da população ocupava a base e o topo era demasiadamente pequeno e restrito.
Muitos anos se passaram. Eu deixei de ser aluno e passei a ser professor e sinto-me na obrigação de retratar um novo Brasil para os meus alunos, um país "em losango". Um Brasil com muitos problemas, é verdade, mas com importantes e incontestáveis avanços.
Não, eu não vou "querer mais" e fingir que não avançamos.
Sim, eu me orgulho do que o Brasil conquistou enquanto país nesses dez anos.
Há quem ache os avanços que eu listei aqui tímidos demais ou sem expressividade, mas desculpe... meu parâmetro é esse! Se você considera um equívoco, a culpa é da Denise que me fez entender e tentar mudar o Brasil dessa forma.
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