23.12.10

A autonomia do ludibriado

Tô tentando escrever aquilo que penso sobre a chegada das forças policiais no Complexo do Alemão e, principalmente, sobre o que os "intelectuais" pensam.

Longe de mim fazer julgamentos apenas por fazê-los, mas vamos a alguns ideia iniciais.

Com relação ao fato (a ocupação) e as análises (dos "intelectuais"), vivemos da seguinte forma: a mídia e parte da sociedade apoia e os "entendidos de um assunto qualquer" reprovam a qualquer custo.

Não quero falar sobre o papel do Estado nem sobre corrupção policial. Isso é pouco, embora seja importante. O que me faz escrever essas linhas é constatar um enorme preconceito por parte daqueles que criticam a ocupação, colocando sob os moradores que apoiam a ação a triste conclusão de que "estão sendo enganados pela mídia!".

O intelectual pode ter o maior dos projetos sociais no Alemão, visitar a favela apenas para comprar drogas ou nada disso, mas não importa. Ele não sabe o que é, de fato, ser favelado e viver aquela realidade. E na minha opinião não tem total capacidade para avaliar ou criticar a chegada das forças policiais.

Concluir que os moradores são apenas ludibriados por reportagens na TV e nos jornais é desmerecimento total daqueles que moram ali e são, em enorme maioria, pessoas de bem como sabemos. O fato é que no Brasil não há espaço para ações bem-sucedidas, ainda que essas ocupações não sejam exatamente bem-sucedidas.

Não podemos viver de extremos: de um lado apoio total e de outro críticas a rodo. Que pensamento pequeno! Reafirmo: os moradores dessas comunidade tem que ter sua autonomia respeitada. Quem viveu sob o poder de facções criminosas sabe o que representa uma mudança nessa realidade, ainda que bem pequena.

Entre alguns desses intelectuais ainda persiste aquela antiguissima visão poética do traficante que não admite desrespeitos com a população da favela em que ele cresceu e ganhou poder.

Depois de horas de transmissão ao vivo das imagens das ocupações, avançamos pouco. E a culpa é daqueles que se intitulam "intelectualizados".