28.7.11

O que te ofende?

Acabei de assistir no Jornal Hoje uma matéria sobre projeto de lei apresentado pela deputada estadual Luiza Maia (PT/BA) que proíbe prefeituras e governo estadual de contratarem artistas que produzam músicas com duplo sentido e que ofendam as mulheres. Achei agora uma reportagem na Folha que fala sobre o projeto, que você pode ler aqui.

Uma grande bobagem e perda de tempo, erros muito comuns na prática de muitos políticos brasileiros, infelizmente.

A proposta, muito confusa, só oferece uma certeza: é o poder público tentando (ab)usar do seu poder para censurar uma prática cultural.

Não há como não relacionar essa proposta à lei do então deputado estadual pelo Rio Álvaro Lins (que teve o mandato cassado em 2008). A lei determinava que os bailes funk só aconteceriam no estado do Rio com autorização prévia de órgãos como a polícia militar. A proposta foi barrada e, para isso, contou com o apoio de muitos artistas e intelectuais brasileiros.

Um ponto relevante: não importa se há os que aceitem ou não os pagodões como música; tampouco estamos aqui para dizer que músicas, artistas ou ritmos têm qualidade e os que não têm. Apenas o público deve dizer o que lhe agrada, dando espaço e sucesso a um artista e suas músicas.

Além de superestimar sua visão de cultura, a deputada é falha também ao não definir quais são os critérios que enquadram uma letra como desrespeitosa às mulheres, sua honra ou feminilidade. Afinal, o que pode ser elogios para uma, pode ser ofensa para outras. A deputada é, portanto, mais capacitada do que qualquer mulher para perceber os "absurdos"? Creio que não.

Sem demagogas comparações: "Não enche", de Caetano Veloso, pode ofender algumas mulheres. Por esse motivo uma prefeitura não poderá oferecer um show de uma maiores artistas brasileiros? Não ferra, deputada!


E mais: quem acompanha um pouco do carnaval baiano sabe que em meio aos desfiles de blocos afro e pagode baiano estão aqueles artistas que fazem muito sucesso em todo o país e são muito beneficiados por contrações do setor público e até participam do programa de captação de recursos via lei Rouanet. São os nomes de peso do axé, como Ivete Sangalo, que canta em seus shows as mesmas músicas que a deputada considera ofensivas. Ou seja: além de censurar alguns artistas, a deputada quer mudar o set list dos shows daqueles que foram aprovados?

A censura - sob qualquer aspecto - deve ser muito bem discutida, avaliada e, claro, deixada de lado. Não podemos admitir que qualquer movimento cultural possa ser cerceado sem que existam motivos relevantes e reais para tal.

27.7.11

Dica de cinema

Assisti no sábado passado ao documentário "Filhos de João - O admirável mundo Novo Baiano", de Henrique Dantas. As entrevistas contam o surgimento do grupo, suas ideias, visões de mundo... Uma viagem interessante por um Brasil que muita gente já quis viver, mesmo sabendo que vivíamos os anos de chumbo.

Destaque para a participação do genial Tom Zé e para falta de Baby do Brasil, que gravou sua participação, mas desistiu de autorizá-la antes de o filme ser finalizado.

Interessante também são as imagens de Salvador nas décadas de 1960 e 70, de filmes da época e até do arquivo da cidade. Belos registos!


Em tempo: ao falar dos Novos Baianos nesse blog, não posso deixar de lembrar desse flagra que fiz em uma Lojas Americanas daqui do Rio.

23.7.11

Encontro Mundial de Blogueiros Progressistas

A @MariaFro acabou de me dizer, via Twitter, que o I Encontro Mundial de Blogueiros acontecerá em Foz do Iguaçu (PR) nos dias 28, 29 e 30 de outubro.

Excelente oportunidade para discutirmos liberdade de comunicação em esferas globais.

Divulga aí!

14.7.11

O que quer Marina Silva?



Pode parecer discurso de petista cego, mas não se trata disso. Trata-se de analisar fatos, discursos e posições.

Nas eleições presidenciais de 2010 fomos obrigados a lidar com muitas sujeiras e alguns acontecimentos no mínimo estranhos.

De um lado, o desesperado José Serra recorria aos elogios à Lula (lembra do jingle "quando o Lula da Silva sair/é o Zé que eu quero lá"? Não?! Então ouça aqui.), ao aborto e aos pastores e padres que cismam em meter-se na política.

De outro ficou Marina Silva, representando um PV que não a representava. O PV, além de defender algumas bandeiras que todos já têm conhecimento como a legalização da maconha (assunto para outra postagem), é mais conservador do que se imagina. Está entre suas propostas: redução da maioridade penal para 16 anos como forma de garantir mais segurança (veja aqui no item 2c). Nada a ver com a Marina Silva evangélica.

Àquela época queria acreditar que a ex-senadora estava sendo enganada por um dos partido mais confusos do Brasil. Hoje não acredito mais nisso.

Recentemente Marina Silva deligou-se do PV por não concordar com alguns caminhos seguidos pelo partido e por sentir-se motivada a encontrar um "novo jeito de fazer política", em um novo "movimento". Junto dela outros quinze nomes fizeram o pedido de desfiliação.



Alfredo Sirkis, deputado federal pelo Rio e um dos fundadores do PV, participou do encontro em que o "movimento" (sem nome, sem definição, sem o povo) foi lançado. Entretanto, optou por não desligar-se agora do PV pois queria preservar o seu mandato. Ué... o objetivo não era buscar uma forma de fazer política sem se preocupar com fins eleitoreiros? Prender-se a mandato não é politicagem pura? Não deu pra entender.

Outra personalidade (?) que também apoiou o "movimento" foi Fernando Gabeira, que nunca sabe para onde vai. Sem mandato, Gabeira está no bolo dos que saíram da legenda verde.

Gabeira também acredita em um "movimento" político novo. Mas em 2010 o então candidato ao governo estadual foi responsável por um dos momentos mais ridículos das eleições. A foto fala por si:



Gabeira apoiava Serra e Marina, embora a verde tenha conseguido convencer alguns eleitores ("apenas" 20 milhões) de que ela era "alternativa" a Dilma e Serra.

Minha dúvida é: Marina Silva, ao saber que o companheiro de partido apoiava seu adversário direto, ficou como?

Marina Silva é mesmo uma boa cristã que perdoa e é livre de ressentimentos ou... sua candidatura serviu somente para embolar o meio-de-campo na disputa à presidência?

É difícil entender como que após o vexame capitaneado por Gabeira, Marina ainda encontre nele qualquer apoio que seja - e aceite-o.

E aí, Marina? O que queres?

13.7.11




O governador Sergio Cabral chamou de vândalos os bombeiros que estavam em greve e que, para protestarem, entraram no quartel.

Sergio Cabral também chamou o Bope para contornar a situação - ele pensa que o Bope resolve tudo.

Mas o governador voltou atrás e se desculpou. Coisa de político profissional. Coisa de quem sonha em ser o vice do Lula em 2014, apostando em um fracasso de leve da presidenta Dilma.

Cabral não sabe lidar com situações em que sua competência ou qualidades sejam questionadas.

Depois dos escândalos do avião do Eike e da festa do amigo empreiteiro (que você pode entender melhor aqui e aqui), ele resolveu se blindar na greve dos professores da rede estadual, que dura mais de um mês. Coisa de político profissional.

Apenas o secretário de Educação é chamado para negociar com o movimento grevista e dar satisfações à sociedade, através da mídia. Mídia, aliás, que é muito paciente com o governador amigo da high society carioca. Não vamos entrar nesse assunto agora.

A crítica que se faz é: o governo diz não ter condições orçamentárias de assumir compromissos de aumento de salários. Fala, ainda, que o alto número de funcionários da educação (é a maior categoria do estado, mesmo com tamanha falta de professores nas salas de aula) geraria um custo previdenciário alto, que não poderia ser pago.

Ficam algumas perguntas, governador.

Porque reformar o Maracanã ao custo de 705 milhões de reais, podendo chegar a 1 bilhão, já tendo anunciado sua privatização após a Copa de 2014?

Onde estão os investimentos estrangeiros tão comemorados nos caríssimos comerciais da TV e na sua (também caríssima) campanha?

E os recursos que o Rio irá garantir com o pré-sal? Vão parar aonde?

Porque classificar como "investimento" o empréstimo junto ao BNDES para o novo Maracanã e classificar como "custo" o aumento aos professores e demais servidores do estado?

Ficam as perguntas, que certamente não terão respostas do político profissional.

8.7.11

À Presidenta Dilma

É quase consenso que o sistema política brasileiro (alianças em eleições, troca de votos no Congresso por emendas de deputados e senadores ao orçamento, distribuição de cargos em todas as esferas de governo, etc) está falido. Há, entretanto, uma atitude muito mais sensata e necessária do que apenas reclamar: fazer existir uma mudança nisso tudo.

Instituições - públicas ou não - não têm o poder da auto-regulação e da auto-reforma, cabendo à sociedade civil estar organizada sem demagogias para exigir mais ética e compromisso. A presidenta não pode ser culpada ou perseguida pelo fato de alguns ministros não terem nenhuma qualificação além de serem caciques de partidos da base de apoio ao governo. Governar é saber fazer concessões e escolher os avanços, embora notícias de bastidores (que não são publicadas pelo PiG) dão como certa a insatisfação de Dilma com o trabalho do ex-ministro dos Transportes e sua vontade em nomear alguém de perfil técnico.

O pedido que fica é simples: resista, presidenta! Imponha sua vontade sempre que possível e, quando não for viável, aprenda maneiras de contornar situações desse tipo. Avançar sempre é mais importante do que avançar muito, mas às vezes.

6.7.11

Antes que venham com a batida frase que diz que "no Brasil é proibido fazer sucesso", quero dizer que não tenho o menor problema com pessoas que fazem sucesso - desde que justificado.

A fama de bom moço de Luciano Huck não é de hoje e por isso não me incomoda há pouco tempo. Na verdade, o que me incomoda são as pessoas acreditarem que, de fato, um empresário gosta e respeita gente pobre - como eu e você.

Esse incômodo, entretanto, se restringia a não assistir seus programas, mas recentemente aconteceram dois fatos que me mostraram que não dava para ficar alheio aos assuntos (sujos) do bom-moço.

O primeiro fato foi numa pesquisa de opinião, da qual eu fazia parte. Perguntaram o que achávamos de uma marca X e logo a classificaram como "fanfarrona", "que quer se aproveitar dos outros". Em seguida a questão foi: quem seria uma celebridade que a representaria bem? Mandei na lata: Luciano Huck. Os demais presentes quase me mataram de ódio e indignação.

Dias depois a justiça de Angra dos Reis determina multa de R$40.000 (uma fortuna!) pelo fato de o apresentador estar criando mariscos de maneira ilegal. Boias foram instaladas sem autorização em frente à sua casa, construída em área de proteção ambiental de acordo com outro processo em que a defesa do apresentador é do escritório da primeira-dama-amiga-da-high-socity-carioca, Adriana Ancelmo. As boias impediam a chegada de banhistas à praia "do" apresentador.

Ou seja, amigo navegante (como diz Paulo Henrique Amorim): o tucano - de nariz e quase-filiação partidária - vai deixar a TV e suas reformas bregas de residência de lado para dedicar-se à maricultura. Não, ele não quer impor exclusividade em um espaço público; quer apenas ostras.

O amigo do Aécio e investidor de retorno garantido não tem motivos para ser paparicado por nós, só pelo PiG.

1.7.11

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), recentemente passou por um problema pessoal que caiu na opinião pública como bomba em pouquíssimo tempo. Um acidente de helicóptero matou sete pessoas - amigos ou pessoas próximas a Cabral, como a namorada de seu filho, por exemplo.

Descobriu-se, como você vê aqui, que o governador era um dos convidados para a festa de aniversário do dono da construtura Delta, uma das que mais tem contratos com o governo do estado do Rio. A festa aconteceu na Bahia e para chegar até lá o governador se valeu de outra amizade de ouro: ninguém menos que Eike Batista emprestou seu avião para Cabral e outros convidados.

Recentemente Eike disse - enquanto contava seus dólares, certamente - que não viu problema algum nisso, pois o empréstimo "não é ilegal".

Eike Batista pode não gostar do que é ilegal ou daquilo que engorda, mas fez questão de passar alheio sobre a moral.

Aí fica a pergunta: é preciso apenas estar dentro da lei? A moralidade pode ser traduzida em palavras e parágrafos e constar na Constituição? A resposta é única: não.

O governador, que tem planos políticos grandes segundo alguns entendidos, resolveu não usar dinheiro público para fazer sua viagem (ficaria feio ter o aluguel de um táxi aéreo para seu "lazer"), mas também não botou a mão no bolso. Corrigindo: não colocou a mão em seu próprio bolso, porque no meu sim.

As empresas de Eike têm conseguido concessões significativas para realizar obras em todo o estado. O mega-empresário resolveu agradecer? Ficou feio, Eike!

E os contratos da Delta? No começo da gestão Cabral tinham valores que não chegavam a 68 milhões de reais. Hoje os contratos somam 506 milhões - um salto de 655%.

Ilegal não é, mas o que falar de alguém que "dá" esse presente a uma empresa e ainda faz uma visita? Ficou feio, Cabral!

A gente vive no país do "e daí?". E daí que eu sou governador e me relaciono com o dono da empresa que tem contratos com o governo de meio bilhão de reais?

E daí que autorizaram a construção do mega-porto do mega-empresário com mega-suspeitas? Empresto o avião sim, e daí?