13.9.12

O mapa é dos votos, mas a regionalização é preconceituosa

A Folha vê o mundo somente pelo critério de classe?
Ao pensar e produzir um mapa, é importante estabelecer os critérios que servirão para dividir o espaço em regiões. 

Isso é Geografia pura e chama-se regionalização. Um mapa do Brasil pode ter um mesmo tema, mas a maneira de dividi-lo para que o mesmo possa ser interpretado é variado a depender dos critérios utilizados para o estabelecimento das regiões. 

Essa informação é importante para que possamos analisar a mais nova tentativa do jornal Folha de S. Paulo de explicar, a seu modo, o eleitorado e as vitórias petistas. Valendo-se do recurso cartográfico, um "videográfico" foi produzido e diz mostrar a evolução da votações na capital paulista, mas o conteúdo central é baseado num critério muito limitado: o nível de renda. Soma-se a isso as ideias de centro e periferia.

O vídeo explica inicialmente, que os bairros da cidade foram divididos segundo o nível de renda e, no mapa, aparecem em uma escala de verde. São usados, também, pontos de referência como o Parque do Estado, Represa Billings, Ibirapuera, Parque do Carmo entre outros. Dessa forma, a regionalização foi baseada apenas nos dados oficiais de renda.

Num segundo momento são mostradas os pontos em vermelho onde o PT foi eleito e em azul as áreas em que a "oposição" (PP, PSDB e DEM, segundo a análise da Folha) foi vitoriosa, ambos em primeiro turno. Os pontos foram lançados no mapa de acordo com eleições de âmbito municipal e nacional.

A primeira eleição analisada foi a para presidente em 1994, sendo intercalada pela eleição municipal seguinte, repetindo tal procedimento até o pleito presidencial de 2010. 

Mapa e poder
É valioso que o navegante perceba que a análise da Folha iniciada em 1994, por exemplo, já configura uma escolha de critério, assim como a opção por não mostrar os números das eleições estaduais.

Produzir um mapa sempre foi fonte de poder, pois trata-se de orientar uma informação. (E disso a Folha entende, amigo navegante...) 

Mais do que escolher as cores certas para compor a legenda, é preciso que seu autor analise todas as leituras possíveis do mapa e conclua se elas são coerentes.

Os dados utilizados pelo jornal são oficiais e não precisariam ser alterados, mas a forma como os mesmos são apresentados (ou escondidos) podem configurar manipulação por parte do autor.

Como analisar os votos sob o aspecto da renda?
É evidente que um estudo sobre os votos dos mais ricos e pobres de uma cidade como São Paulo é válido, mas a crítica que podemos fazer é que existem critérios mais completos que levam a conclusões mais amplas e tornam as conclusões dos leitores àquilo que realmente interessa.

A Folha deveria produzir um mapa menos baseado em questão de classe.

Este blogueiro que vos escreve acredita que boa parte do preconceito, resistência e intolerância e aos governos Lula e Dilma (e a seus eleitores) é baseado em mero preconceito de classe.
  
E o mapa de votos da Folha apenas sustenta tal preconceito. É como se ficasse provado quem são os responsáveis pela eleição do Nunca Dantes (como diz Paulo Henrique Amorim), por exemplo.

Sendo mais criteriosa e mais honesta com seus leitores, a Folha poderia completar o mapa de votos da capital paulista com o Índice de Desenvolvimento Humano ou mesmo dos bairros em que os moradores mais perdem tempo no transporte público.

O leitores perceberiam que o PT não vence mais facilmente na zonas de pobreza, mas mais do que isso. Usando mais critérios seria possível perceber que o PT vence nas áreas mais excluídas.

A "vida fácil" das eleições do PT na periferia é mais justificada pela carência de serviços públicos de qualidade e pelas conquistas recentes do povo mais pobre de São Paulo via Lula e Dilma do que por mera questão classista. 

O PT não é o partido dos pobres, mas daqueles melhoraram de vida nos últimos anos ou daqueles que acreditaram em outras propostas de poder.

A Folha falhou, mais uma vez.