26.10.11

SÉRIE - Futebol para todos: muito além do grito de gol

1) O jogo em que Ricardo Teixeira é o capitão

Ricardo Teixeira concentra muito poder no futebol brasileiro, além de ser bastante próximo de nomes como o brasileiro João Havelange (presidente da FIFA de 1974 até 1998) e do suíço Joseph Blatter (sucessor de Havelange, com mandato até 2015).

Presidente da CBF há 22 anos, Ricardo Teixeira tem mandato até 2014 (ano da Copa no Brasil) e planos de presidir a FIFA a partir de 2015. Além disso, acumula o cargo de presidente do Comitê Organizador da Copa no Brasil (em que sua filha é a diretora-executiva). É ele que tem decidido junto das autoridades brasileiras o destino de bilhões de reais na construção dos estádios, por exemplo.

Embora tenha garantido em texto publicado na Folha de S. Paulo que a Copa no país do futebol seria bancada quase que integralmente pela inciativa privada, não há como negar a importância dos investimentos de governos municipais, estaduais e, principalmente, do governo federal. Há números que falam em mais de 98% da conta paga pelo dinheiro do contribuinte - o nosso.

A relação entre público e privado, como se vê, é bastante complexa na cabeça de Teixeira. Na bela reportagem da revista Piauí publicada em julho e assinada por Daniela Pinheiro (leia aqui), ele esbraveja: "Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Que porra eles têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?".

Grande leviandade! A FIFA, para garantir seu lucro (estimado em 4,6 bilhões de dólares por mundial) e o de seus parceiros faz as mais variadas imposições. Entre elas, a isenção fiscal para todas as atividades que envolvam a Copa de 2014. A lógica é simples: para ser investigada, a Copa, a FIFA e a CBF são entidades privadas; para receberem dinheiro público são parceiras do governo brasileiro.

Mesmo que não falemos em uso de dinheiro público (o que não é o caso da CBF e da Copa, que se confundem na pessoa de Ricardo Teixeira), as empresas têm regras e leis a respeitar e detalhes a fornecer a diversos órgãos.

Ainda à revista Piauí, Teixeira deixou claro que o poder que ele concentra justifica qualquer arbitrariedade e retaliação. Diversos jornalistas e publicações são seus inimigos, seja abertamente declarado ou através das dezenas de processos abertos por ele (só contra Juca Kfouri já foram cinquenta): "É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas". "Merdas" foi a palavra escolhida para resumir as denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito.

Toda essa indiferença se completa com uma segurança inabalável: "só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional". Nesse ponto Ricardo Teixeira parece ter um pouco de razão. O maior grupo de comunicação do país costuma ser mais fiel aos seus interesses comerciais, como garantir as transmissões dos jogos do Campeonato Brasileiro e da Seleção, do que aos assuntos que correm o mundo. A TV Globo preferiu blindar o presidente da CBF em rara entrevista durante o processo eleitoral da FIFA, enquanto toda a imprensa esportiva mundial repercutia denúncias sobre pedido de propina em troca de apoio à candidatura da Inglaterra para a Copa de 2018.

Não são poucas as histórias de bastidores que vêm a público sobre demonstrações de força, ora por parte da Globo, ora por parte de Ricardo Teixeira. A mais emblemática, entretanto, é de 2001, quando o Congresso brasileiro fazia a CPI da Nike. Em um Globo Repórter (veja abaixo, em quatro partes), a emissora questionou o patrimônio de dirigentes, entre eles Teixeira, em comparação a seus rendimentos. A resposta foi rápida: o clássico Brasil x Argentina foi repentinamente remarcado para as 19h45. "Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?", revelou o nome forte do futebol brasileiro na mesma entrevista à Piauí.

A inevitável pergunta é: os rumos do esporte mais praticado e assistido do Brasil está nas mãos da pessoa certa? Ao que tudo indica, não. Ricardo Teixeira usa a CBF para demonstrar e ampliar sua influência, sem medo, e com constantes ameaças.

Fora das quatro linhas - para não dizer que também dentro delas - o que menos importa é o futebol. O capitão Ricardo Teixeira quer mesmo é levantar a taça de poderoso. 







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blog Pra Escrever apresenta uma série de postagens sobre as negociatas e politicagens do futebol brasileiro, reunindo publicações e críticas recentes da imprensa.

1) O jogo em que Ricardo Teixeira é o capitão.
2) Os contratos de transmissão no Brasil.
3) A história se repete. Chegou a hora de aprender com os hermanos.






      

Um comentário:

Rogério Floripa disse...

Documentário - Os Segredos Sujos da FIFA - Mr. Teixeira, você recebeu subornos por parte da empresa Sanud?
http://fwd4.me/0Aav