11.2.12

Apequenam a briga de gigantes

Começou de verdade, nesta semana, a Copa Santander Libertadores - a maior competição de futebol das Américas. Contando com a participação de grandes clubes brasileiros (são seis nesta edição: Santos, Vasco, Corinthians, Fluminense, Internacional e Flamengo), os jogos poderiam significar apenas novidades no noticiário esportivo do Brasil, mas não é só isso.

Detentora dos direitos direitos de transmissão do torneio há muito tempo, a FOX Sport apenas repassava (ou revendia, como preferir) ao mercado brasileiro as transmissões, uma vez que não atuava aqui. Em 2012, entretanto, mudanças aconteceram. Com o crescimento sustentado da economia nos últimos anos, aumento do nível salarial, do poder de compra das famílias e com o crescimento da classe C, TV paga deixou de ser serviço de rico. O crescimento do setor é inegável: em comparação a 2010, o número de assinantes cresceu 30,45%. Em comparação ao ano de 2009 o número de assinantes é ainda maior: cresceu 70,52%, segundo dados da Anatel.

A tendência é que o número de domicílios com TV paga cresçam ainda mais - em outras palavras, o mercado será ainda maior. Além dos motivos que sustentaram o crescimento nos últimos anos se manterem como importantes, a já sancionada Lei da TV por assinatura (Lei 12.485/2011, veja aqui) torna-se divisor de águas, uma vez que regulamenta o setor. Resultado: a FOX Sport vislumbra novos negócios e chegou ao Brasil, juntando-se aos canais SporTVESPN Band Sports no protagonismo esportivo dos canais fechados.

Assim, o telespectador brasileiro passa a contar com um poder pouco comum em nossa economia, mas que faz toda a diferença para nós, consumidores: a concorrência. Em se tratando dos principais campeonatos de futebol disputados pelos clubes brasileiros, até 2011 a TV Globo e o SporTV (ambas das Organizações Globo) tinham exclusividade inclusive sobre a Copa Libertadores; agora têm concorrente de peso. Segundo Daniel Castro, comentarista da Record News e blogueiro, a FOX Sports tem 200 milhões de dólares para investir no Brasil (veja aqui).

Em termos de conteúdo, a nova lei permite não somente a entrada do capital estrangeiro na concorrência (em até 70% nas empresas), mas valoriza a produção audiovisual brasileira. Por semana, os canais deverão reservar 3,5 horas para produções brasileiras e a cada três canais presentes nos pacotes de TV paga, um deverá ser nacional.


Este blogueiro que vos escreve considera as medidas importantes, uma vez que a participação do capital nacional não garante a devida liberdade de ideias e concorrência. Boa parte da geração de conteúdos da TV paga fica a cargo de grupos de comunicação que atuam em outros segmentos, como a TV aberta. Além disso, a produção independente (que será contratada pelos canais que apenas importam seus programas) tem grande importância, já que tende a valorizar a pluralidade cultural apresentada pelo nosso país, gera empregos, revela talentos e descentraliza a produção.

Polêmica e novo canal 
O lançamento do FOX Sports tem gerado polêmica. Mesmo com uma programação que atrairia grande fatia da audiência na televisão paga, as maiores operadoras do serviço no Brasil ainda não têm exibido sua programação. NET e Sky, que fecharam 2011 com 66,79% dos assinantes do país segundo relatório da Anatel que você pode conferir aqui, parecem atender a interesses contrários aos de seus clientes: não têm qualquer previsão acerca da estreia do canal em seus pacotes.

Consultado por Carta Capital, André Mermelstain é editor de Tela Viva (publicação especializada no setor) e garante que as negociações sobre a entrada de um canal em determinada programadora não são tão simples e exigem tempo de negociações (veja a reportagem completa aqui):

- Quando um canal é lançado, não consegue boa distribuição imediatamente. O canal não está sendo barrado.

Difícil acreditar. A aparente má vontade da NET e da Sky não é vista na Oi TV (que garante o canal para a próxima semana), por exemplo. Além disso, quando houve a estreia do canal Viva (da Globosat e, claro, das Organizações Globo) há pouco mais de um ano, não apenas as maiores operadoras já o ofereciam como em pouco tempo o canal tornou-se uma das maiores audiências das TVs pagas. Quando querem, as distribuidoras disponibilizam os canais.

O amigo navegante pode não saber, mas a NET e a Sky são, respectivamente, 30% e 5% das Organizações Globo. Esses números já foram maiores. Caíram em função do prejuízo pelo qual passaram as TVs por assinatura em determinado momento e por descumprirem a nova lei, que exige que tenhamos definidos e isolados produtores de conteúdo e geradores de sinal. Simplificando e copiando Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada: "Pela nova lei, quem produz conteúdo não vai poder distribuir. E quem distribui não vai poder produzir conteúdo".

Ou seja: a dificuldade encontrada pela FOX Sports em chegar à maioria dos assinantes tem nome. E esse nome é monopólio. O SporTV certamente tem condições de permanecer como o canal com maior audiência e faturamento no segmento esportivo da TV paga no Brasil (afinal, tem o Brasileirão), mas o horizonte aponta mudanças. É disso que as grandes empresas de comunicação têm medo.

O futuro tem demonstrado indícios positivos, mas não dá para nos enganarmos com o entusiasmo. Veja o que o jornalista Cosme Rímoli publicou em seu blog (veja post completo aqui):

"Agora é guerra entre a FOX Spors, a NET e a Sky. A maior arma do canal americano a cabo é a pressão popular. A estratégia é privar os telespectadores dos jogos da Libertadores (grifo nosso) para pressionar as operadoras. Executivos da Fox resolveram não usar mais os canais Speed e FX para mostrarem partidas."

É isso: saímos de um monopólio e entramos em outro, a depender da visão empregada. Ganhamos por termos mais um grande canal transmitindo um grande evento, mas o poder da informação permanece na mão de poucos.

Quando dois elefantes brigam, quem perde é grama. Não se ilude. Existem boas novidades, mas nem todas novidades são boas.


2 comentários:

Anônimo disse...

o blogueiro consulta um especialista e discorda dele apesar de nada saber sobre o mercado.

isenção, Paulo henrique amorim e substancia...

Unknown disse...

Caro Anônimo, a consulta ao "especialista" foi feita pela reportagem da revista Carta Capital, reproduzida aqui e com a citação à matéria.

Isso foi feito para que os leitores saibam do que se trata o assunto, mas mesmo não sendo especialista me reservo no direito de discordar. Além disso, o nome é "especialista" e não "dono da verdade".

Os motivos pelos quais discordo estão neste post e no mais recente, que está neste link: http://migre.me/7Vxhc

Obrigado pela visita!