17.8.11

Produção cultural e a internet: quais são os novos caminhos?

Quando se coloca em questão a democracia que a tradicional e concentrada mídia brasileira nos impõe, não apenas um noticiário político distorcido e parcial deve ser mencionado. O assunto abrange outros temas, que só evidenciam a necessidade de discutirmos a fundo uma nova política de comunicação no Brasil.

Em um país em que a geração de conteúdo é concentrada e assegurada por uma ultrapassada legislação, os veículos de massa enfiam goela abaixo aquilo que querem: artistas, movimentos, músicas, etc. Entram e saem das paradas de sucesso (e consequentemente da vida da maioria dos brasileiros) os mais variados nomes, a depender da vontade dos detentores do poder de comunicar.

A indústria do entretenimento é um grande negócio e se torna, portanto, um mercado importante. Essa constatação não significa, porém, que devamos achar normal dependermos da mídia para consumir cultura de qualidade (ou simplesmente a cultura que nos agrada).

A internet - de novo ela! - aparece como caminho alternativo.

É por meio dela que fãs de determinado artista estrangeiro se unem e pagam os custos de um show na cidade do Rio, uma vez que na visão de muitos produtores a capital cultural do Brasil "não tem público".

Me refiro às práticas de crowdfunding ou financiamento colaborativo que o Queremos tem utilizado. São pelo menos dez shows de artistas que passariam longe da cidade maravilhosa em uma turnê brasileira, mas que já aconteceram ou estão agendados graças às forças reunidas pela rede.

A ideia é simples, mas significativa: os organizadores levantam os custos do espetáculo, dividem por um número determinado de possíveis compradores e oferecem "ingressos-reembolsáveis" pela internet. Ao atingir o número de compradores suficientes para bancar a contratação, o artista é confirmado; caso contrário, os valores são integralmente devolvidos àqueles que compraram.

Quando o show é confirmado, as bilheterias vendem ingressos da maneira tradicional e se forem vendidos alguns poucos ingressos em preço de mercado, aqueles que compraram o "ingresso-reembolsável" assistem a apresentação sem custo.

No mais recente caso de sucesso o Queremos contratou a banda britânica Metronomy com a ajuda de 220 cariocas e mais três empresas parceiras. O show será em setembro em um dos mais tradicionais palcos da cidade e da música brasileira, o Circo Voador, e em caso de 1260 ingressos vendidos por R$60 os "220 cariocas empolgados" entram de graça.

O responsável por este blog que vos escreve conversou com a principal responsável cultural do Circo Voador.

Na ocasião acontecia o 2º Festival de Cultura Digital, numa programação que reuniu em quatro dias shows do Mundo Livre S.A. e Lobão, por exemplo, além de terem sido oferecidas exposições e ofinas com temáticas como software livre. Tudo isso com ingresso sendo um livro ou uma peça eletrônica quebrada.

Maria Juçá reafirmou o apoio às práticas de conteúdo colaborativo e se colocou na mesma posição do público: os palcos da cidade são também reféns dos grandes produtores.

Há chances de grandes shows nacionais também serem produzidos por meio do crowdfunding, embora as práticas inciadas pela própria Maria Juçá sejam mais vantajosas: um artista de peso é anunciado, o Circo fica lotado e a casa divide os ganhos com a bilheteria.

O Circo, que é também Pontão Cultural do Ministério da Cultura, entra na luta por uma produção cultural mais plural e democrática.

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