15.10.11

Questões locais, globais e sobre a Copa. E a soberania nacional?


Vivemos em um mundo globalizado (ou mundializado, como preferem os franceses).

Na visão fantasiosa que os poderosos querem impor, as tecnologias apresentam oportunidades, um mundo mais integrado e com distâncias espaciais e temporais reduzidas.

Um dos símbolos desse mundo globalizado são as empresas transnacionais, poderosas em várias áreas de atuação: do entretenimento ao mercado financeiro; da indústria alimentícia à automobilística. Consumir produtos dessas marcas, para muitos, é associar-se a elas e incluir-se na tal globalização.

A atuação imperialista e tirânica dessas corporações causa inevitáveis problemas por onde elas passam: desemprego, desrespeito aos direitos trabalhistas e ao meio ambiente, perda da identidade etc. Tudo isso justificado pelo lucro e pelas supostas "oportunidades de ouro" que as empresas oferecem aos estados nacionais, uma vez que recusar ou dificultar a atuação das empresas causa sua fuga. Há outros espaços em que elas podem se instalar sem que seja incomodada.

Outra característica da globalização é a homogeneidade imposta aos nossos costumes e consumo. Muitas vezes sem perceber, acordamos pela manhã e usamos produtos de higiene da estadunidense P&G, fazemos as refeições usando a suíça Nestlé, vestimos e calçamos a alemã Adidas, nos divertimos na noite bebendo cervejas da belga-brasileira InBev e ouvindo músicas do catálogo japonês da Sony. Por mais diversificado e cheio de opções que possa parecer, muito de nossas vidas é controlado por poucas corporações.

O processo com essas características se dá há décadas, mas começa a ganhar outras formas. Resistências têm explodido em todo o planeta há algum tempo. Um poder cada vez menos do Estado e cada vez maior das transnacionais é motivo de revolta, seja na América Latina ou na Europa - as desigualdades e injustiças nos unem, na medida do possível.

A FIFA, uma das mais influentes transnacionais conforme disse Juca Kfouri em artigo para a revista Interesse Nacional que está em seu blog e pode ser lido aqui, não age de maneira diferente. Usando e abusando da emoção que o futebol causa em todo o planeta (o marketing é ferramenta de ouro para qualquer corporação de grande porte no mundo) a entidade máxima do esporte impõe aos países-sede de seus eventos contratos, legislações e estilos de consumo. É o padrão-FIFA, caríssimo.

Para a Copa de 2006, na Alemanha, a força da Anheuser-Busch legitimada pelo contrato milionário com a FIFA não foi suficiente para impor que alemães e turistas consumissem no país da cerveja (a até então estadunidense) Budweiser. Por menos importantes que fossem nas grandes negociações globais, essas marcas locais conseguiram estabelecer-se com força e isso significa muito mais do que ter uma marca ou outra.

A força das ruas e do bom-senso mostra que por mais globalizado que esteja o mundo, ainda existe espaço para relações econômicas e de poder mais justas. Infelizmente, esse não é um caminho que estamos trilhando por aqui com relação à mesma FIFA.

Para a Copa de 2014 teríamos que deixar de lado legislações sobre meia-entrada para estudantes e idosos e sobre a proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios. Ainda que não faça sentido pelo clima que temos, os estádios brasileiros terão que ser cobertos (o que significa milhões de reais a mais nos orçamentos).

A soberania de um país cada vez mais importante no cenário internacional fica em xeque pelos desmandos dos senhores Teixeira e Blatter, sempre presentes nos noticiários internacionais por suspeitas e provas de sujeiras das mais diversas.

Esse tipo de análise não aparece na grande mídia brasileira, talvez pouco preocupada com a soberania do nosso país. Mais do que ficarmos orgulhosos por termos um evento desse porte em solo brasileiro, precisamos avaliar o que isso significa e qual preço pagamos.          

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