16.10.11

O futuro equivocado por dentro do "New York Times"


Este blogueiro que vos escreve gosta muito de cinema, embora entenda pouco (ou quase nada). Em tempos de Festival do Rio, montei uma lista de filmes que me interessavam sem atentar para diretores ou elenco, ficando focado apenas pela sinopse divulgada.

Dessa forma, escolhi com certo entusiasmo o filme "Primeira página: por dentro do New York Times", do diretor Andrew Rossi. O trabalho começa evidenciando os problemas que a publicação vem enfrentando nos últimos anos, sobretudo com perdas significativas em publicidade (valores pelo menos 30% menores de um ano para outro) e o crescimento das novas mídias e daquelas consideradas não-tradicionais.

Entretanto, o que se vê por dentro da redação do mais importante jornal dos Estados Unidos são demonstrações desnecessárias de poder e de ego de um outro diretor (inclusive em encontros promovidos para discutir o futuro do jornalismo em tempos de Internet) e demissões promovidas pela direção da publicação, justificada por questões financeiras - "Uma ação do Times custa menos do que uma edição de domingo", diz um dos entrevistados.

O filme nada mais é do que uma tentativa de fazer os espectadores acreditarem que mesmo em um novo mundo (em que a Internet e as técnicas de comunicação são fundamentais) a influência do jornal permanecerá. Há controvérsias.

A questão que talvez nem todos percebam (principalmente os ainda entusiastas desse jeito tradicional de produzir notícias, inclusive jornalistas) é que a própria fita dá os sinais das mudanças que vivem o jornal: mostra que, em 2001, ao publicar matérias sobre os armamentos nucleares no Iraque isso significou verdade absoluta na opinião pública estadunidense. O contraponto: sete anos depois, enquanto uma rede televisiva afirmava que a ocupação dos EUA no Afeganistão havia chegado ao fim, a redação do Times se encontrava perdida sobre como tratar um assunto que eles não dominavam.

Uma dos momentos finais do filme é um dos piores: "a notícia não vai morrer", diz um dos participantes do documentário ao garantir o futuro do The New York Times. A notícia vai continuar existindo, sim - com ou sem grandes jornais. Aliás, penso eu, quanto menos concentrada for a produção de notícia - leia-se: sem grandes corporações da informação - mais diversificadas serão as notícias que teremos sobre o mundo.

Já escrevemos (e pode ser lido aqui) que quanto menos dependermos dos grandes jornais e agências de informação, mais protagonistas existirão para que a notícia, uma interpretação dos fatos, possam surgir.

Quando morrem ou agonizam os grandes órgãos da imprensa mundial, a notícia vive.      

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