27.1.12

Para o PiG*, tudo se resume a política eleitoreira.

Ex-moradora de Pinheirinhos, dona Josefa chorou a reintegração de posse promovida pela Justiça e pela PM de São Paulo.
Foto: Reinaldo Marques/Terra.

Algumas pessoas se referem à Constituição de 1988 como Constituição cidadã. Por cidadão entendemos indivíduos que cumprem deveres e têm seus direitos respeitados. 

Depois de passados alguns dias da reintegração de posse do terreno de propriedade do especulador Naji Nahas (o banqueiro que faliu a Bolsa de Valores do Rio e foi preso em 2008 pela operação Satiagraha), os moradores da favela em São José dos Campos (SP) permanecem mal acomodados e sem garantias de terem acesso a moradias dignas enquanto outros optaram por fugir. 

Eram cerca de 6 mil moradores em Pinheirinhos. E a Polícia Militar chegou à favela com cerca de dois mil soldados. Casas foram destruídas, mesmo com móveis e pertences pessoais dentro; gás lacrimogênio e bolas de borracha foram utilizadas para conter as reivindicações e protestos daqueles que resistiam à decisão judicial; moradores denunciam o sumiço de amigos e familiares que foram levados a hospitais (veja aqui). A cidadania por aqui é assim.

Mônica Waldvogel, apresentadora do "Entre aspas", da Globo News, optou por discutir outros temas com o pano de fundo Pinheirinhos: "a discussão (sobre a reintegração) mostrou sinais de contaminação política". A jornalista, que faz parte do maior grupo de comunicação do país e tem na TV Globo uma programação diária com pelo menos cinco telenovelas de qualidade de conteúdo duvidosa, se acha suficientemente capaz de questionar o movimento de resistência dos moradores pelo fato de um partido, o PSTU, "liderar" a "ocupação ilegal".

É simples: exibir imagens de passeatas pelo país que protestam contra a corrupção usando cartazes "Fora Lula", pode; envolver partidos políticos na defesa de um direito básico dos brasileiros, não.

No mesmo programa Mônica parece se sensibilizar com a sinuca de bico a que os juízes paulistas foram submetidos. Para ela, os representantes da Justiça precisaram "cumprir a lei". Que lei, senhora Mônica? A mesma constituição que garante o direito de propriedade, garante o uso social da propriedade e o direito à moradia. 

O fato de a empresa proprietária do terreno - controlada por Naji Nahas - dever mais de 15 milhões de reais em IPTU não tem sido mencionado pelo PiG, assim como não se divulga devidamente que o atual valor de mercado do terreno é de 180 milhões de reais e que estamos acompanhado nada mais do que a ferocidade do evidente processo de especulação imobiliária.

Por outro lado, a imprensa noticiou saques e áreas em que os moradores consumiam crack - para o PiG, pobre consumir drogas é gravíssimo; o mesmo acontecer na Avenida Vieira Souto é detalhe.

Não há dúvidas de que a cobertura do caso tem um lado: o dos poderosos, embora a mídia use e abuse da falsa imparcialidade.

Moradia digna e preconceito
Para piorar a situação, li com revolta a reportagem da Folha de S. Paulo reproduzida pelo Blog do Nassif  (veja aqui) em que se questionava e denunciava a péssima qualidade de apartamentos populares entregues às famílias em dezembro de 2010 em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O diretor regional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento de Habitação e Urbanismo), Milton Vieira de Souza Leite, explicou o porquê de rachaduras, janelas que não fecham e pias que vazam água:

- A gente conhece o nível de educação (dos moradores)... O pessoal veio da favela. Não está acostumado a viver em casa.

Sobre uma pia de cozinha que caíra após um dos moradores colocar sob ela uma cesta básica, a resposta foi:
- O que ele foi comer foi outra coisa.

Isso vai ficar impune, governador Geraldo Alckmin?

*O PiG (Partido da imprensa Golpista) é a denominação para toda a grande mídia brasileira, mais preocupada com o poder do que com a informação.A sigla foi criada e difundida por Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada.





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