8.10.12

Eles, o povo

Aquilo que muita gente cisma em chamar de "festa da democracia" teve sua primeira parte terminada ontem. No país dos mais de 5 mil municípios, os vereadores foram eleitos assim como já aconteceu com a imensa maioria dos prefeitos.

As campanhas municipais - pelo menos aquelas de maior repercussão como as do Rio de Janeiro e São Paulo - costumam trazer ingredientes de uma comédia pastelão misturados com pitadas de drama. O resultado e impacto varia de plateia (ou entre os eleitores): há os que dormem durante toda a sessão e só acordam nos créditos finais, sendo informados sobre os eleitos; há os que ficam indignados e incomodados, ao mesmo tempo em que o cara da cadeira ao lado ri sem parar.

Alguns dizem que a democracia é extremamente falha e ilude a maioria com seu discurso. Talvez não pensem que nosso uso da democracia pode ser falho também.

Todos somos seres políticos, e a forma como reagimos, pensamos e lidamos com o período eleitoral não impõe (des)qualificações. Nosso sistema democrático, baseado na representatividade dos partidos políticos, é recente. Foi conquistado há 30 anos, praticamente, e isso já diz muito. Não sabemos lidar com ele ainda, independente do nível de escolaridade que tenhamos ou, pior!, da parte da cidade em moramos. 

No país do coronelismo, do voto de cabresto e da troca de votos por dentaduras, jogar sobre o eleitor comum (pobre, pouco instruído e cheio de anseios) a responsabilidade do voto consciente é como que pedir aos grandes estúdios de cinema que parem de produzir besteirol para criarem um público novo, mais crítico e exigente.

Ontem, no primeiro turno, o candidato à reeleição Eduardo Paes (PMDB/RJ), atingiu seu objetivo. Teve quase 65% dos votos válidos e será o prefeito carioca por mais quatro anos. O banho de água fria naqueles que acreditavam no segundo turno e acabaram sendo frustrados com uma vitória esmagadora (essas pessoas pensam que Marcelo Freixo, do PSOL, teve "apenas" 28% dos votos válidos) foi tão incômodo como constrangedor. Ontem mesmo, poucas horas após o fechamento da última urna, já se sabia quem era o culpado pelo equívoco eleitoral: o povo.

Fala-se muito facilmente em "povo", se referindo a outras pessoas, a outros grupos sociais. Sinto informar, intelectuais: numa visão mais ampla e menos preconceituosa da política e da democracia, todos somos o povo. Há aqueles que, de fato, não participam desse grupo. Não são parte do povo porque não honram o mesmo, mas entre esses você, mero assalariado de classe média, não faz parte.

Favor não recorrer a números que insistam em reafirmar diferenças, como nível de renda e escolaridade, quantidade de filhos por mulher, taxa de desemprego etc. Não, você não é menos povo.          

2 comentários:

http://memoriasperturbadas.blogspot.com disse...

Caramba, você falou, ou melhor, escreveu exatamente o que penso sobre o que é ser povo.
Ótima reflexão!!
Nelson Marques

Unknown disse...

Pois é... Não me sinto menos responsável pela eleição do Paes mesmo não tendo votado nele.
Pelo contrário, porque a partir desse revés eleitoral é que a militância deve começar. É bonito levantar bandeira, panfletar voluntariamente, vestir a camisa. Mas é no período entre eleições é que nossa voz deve se fazer ouvida. Nem que para isso precisemos ir para diante da Câmara de Vereadores com panelas e apitos.
Eles foram eleitos por nós e para nós! São os NOSSOS interesses que estão em jogo, não o das empreiteiras, empresas de ônibus, Supervia, etc.