22.9.11

O crime compensa pelo atingido? Para a Veja, sim.

O ex-ministro José Dirceu teve seu mandato de deputado federal e parte de seus direitos políticos cassados em função do mensalão, que ainda está por provar-se (como diz Mino Carta a Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada).

Esse ingrediente foi o bastante para aqueles que mandam na redação de Veja terem autorizado e, depois, justificado os métodos utilizados para realizar a reportagem de capa da edição em que Dirceu foi classificado como "o poderoso chefão" do governo.


Segundo apuração feita pelo repórter Gustavo Ribeiro, Zé tem tanto poder e influência no governo Dilma Rousseff que recebia em seu apartamento no Nahoum Hotel, em Brasília, atuais ministros, por exemplo. Na  reportagem completa publicada há cerca de um mês, Veja diz provar a denúncia com imagens do circuito interno de TV hotel.



O texto, claro, não considera que mesmo tendo sido cassado, José Dirceu continua sendo um cidadão com o direito de receber e conversar com amigos e articular politicamente, já que faz parte da direção do Partido dos Trabalhadores, uma vez que a decisão sobre o mensalão ainda não foi dada pela Justiça brasileira.


Os fins justificam os meios?


Até aqui, essa seria apenas mais um caso de mau-jornalismo praticado pela revista Veja. Porém, há detalhes que não foram publicados ou discutidos com a opinião pública com devida importância.


O repórter Gustavo Ribeiro hospedou-se no mesmo andar do hotel em que José Dirceu tem uma suíte alugada há meses. Para invadir o quarto do investigado tentou ludibriar a camareira que fazia seu serviço pelo corredor, dizendo que havia perdido sua chave e solicitando que a porta do seu quarto (na verdade quarto de José Dirceu)  fosse aberta. A funcionária, atenta e coerente, negou o pedido e comunicou o pedido à gerência do Nahoum. O repórter e o fotógrafo, que tentaram enganar os funcionários do hotel como crianças querem enganar seus pais, fugiram sem fechar a conta do quarto (detalhe: conta aberta com nomes falsos).


A polícia foi acionada, um boletim de ocorrência foi aberto pelo hotel e conclusões da investigação foram divulgadas por José Dirceu em seu blog:


"Foi concluída a investigação policial sobre a tentativa de invasão do apartamento que ocupo no Nahoum Hotel, em Brasília, ao final de agosto, pelo repórter Gustavo Ribeiro, da revista Veja. O jornalista prestou depoimento acompanhado de três advogados e admitiu que, de fato, tentou violar o recinto. A apuração policial também constatou que as imagens do circuito interno do hotel apresentam divergências com as publicadas na matéria de Veja. Os horários supostamente apurados pela revista simplesmente não batem com os registrados pelo hotel. A investigação – que colheu vários depoimentos e também se apoiou em imagens do circuito interno - será encaminhada ao Juizado Especial Criminal de Brasília."


Não há dúvidas de que os métodos utilizados por Veja não compensariam, caso jornalismo de verdade fosse praticado. Seria injusto usar e abusar de tais métodos para ter qualquer furo jornalístico. A matéria foi publicada, mesmo com a investigação policial acontecendo em Brasília. E, ao que parece, nenhuma nota que explique ou reconheça os erros foi publicada.


A perseguição do qual foi vítima o ex-ministro José Dirceu serve de alerta para a sociedade brasileira entender, de uma vez por todas, que a democracia nos meios de comunicação que aí está beneficia poucos e que um novo marco regulatório dos meios de comunicação do Brasil é pura justiça.



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